segunda-feira, 11 de maio de 2009

A estatística das interpretações

Um rapaz chega do trabalho, um pouco mais tarde que o normal, em casa. Cansado, joga o casaco num canto e liga o notebook, já aberto, em cima da mesa. O silêncio tingido pelas nuances azuis da tela de LCD, no quarto vazio, dá esperanças, de que no e-mail que tem a checar, chegarem notícias que o salvarão do tédio:

Que seja preenchida com seu nome a vaga na empresa em que recentemente mandou currículo e sempre sonhou fazer parte. De que aquela ex-namorada de que se arrependeu ter terminado finalmente, depois de muito tempo, respondesse a última mensagem deixada. De que chegasse o dia em que aquele amigo da infância que sumiu - e era o único que o entendia - e perdeu todos os contatos, descobrisse por acaso seu endereço eletrônico e entrasse em contato. De que a garota que conheceu no fim de semana, não tenha deletado do celular o e-mail que anotou e desse um sinal de que ele não foi tão desinteressante quanto pareceu... De que um estranho interessante qualquer surgisse do nada e fizesse um pouco de entretenimento no meio do poço de banalidade!

Nenhuma mensagem não lida.

Por quê?!... Vamos googlar: tédio. Estou com sorte. Isso não pode estar acontecendo comigo, há dias não recebo mensagens!


"O tédio é um sentimento humano, um estado de falta de estímulo, ou do presenciamento de uma ação ou estado repetitivo - por exemplo, falta de coisas interessantes para fazer, ouvir, sentir etc."

Sábia Wikipedia! É exatamente isso que eu sinto! Vamos continuar lendo:

"O tédio caracteriza-se por uma sensação de tristeza, vazio, solidão e/ou falta de interatividade quando o espectro de ações que um indivíduo realiza é muito limitada dentro de sua rotina."

E o que será que ela diz sobre indivíduo?

"Em metafísica e estatística, a palavra indivíduo habitualmente descreve qualquer coisa numericamente singular, embora por vezes se refira especificamente a "uma pessoa". Usada em muitos contextos, tanto "Sócrates" como "a Lua" são indivíduos. Em geral, "uva" e "vermelhidão" não são."

Então, isso quer dizer que o tédio é algo inerente a um indivíduo (singular, e obviamente, sozinho) quando este está preso a uma rotina e sente falta de algo que o faça identificar a si próprio, seja por uma ação e/ou uma pessoa? Uhm... me parece plausível! E o que isso tem a ver com estatística? Click.

"[A estatística] Tem por objetivo obter, organizar e analisar dados estatísticos, a fim de descrever e explicá-los, além de determinar possíveis correlações e nexos-causais. Em outras palavras, a estatística procura modelar a aleatoriedade e a incerteza de forma a estimar ou possibilitar a previsão de fenômenos futuros, conforme o caso."

Muito bem. Agora isso, então, quer dizer que meu tédio decorre do fato de eu estar preso a uma rotina e com carência de estímulos? E estar sujeito a isso por ser um indivíduo. E, como indivíduo, o que acontece comigo, simplesmente decorre de eventos correlacionados que podem ser previstos se estudados...? holyman!

Logo, como todos os indivíduos são partes de eventos aleatórios, incertos e passíveis de previsão, tudo que acontece comigo, como indivíduo, é passível de se tornar rotina. Portanto, todos os eventos que ocorrem com indivíduos fazem estes tender ao tédio...

Oh no!   O_o'



...acho melhor voltar e clicar em metafísica ao invés de estatística...

Um comentário:

  1. Você é provavelmente o único cara de exatas na face da Terra que usa matemática pra explicar as coisas doloridas e impacientes da área de humanas.

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