quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lucidez Silenciosa

Acordei um dia e estava triste.
Tive um sonho ruim naquela noite. Era difícil distinguir se a tristeza foi plantada em mim por pensamentos e histórias aleatórias que minha mente criou enquanto eu dormia ou se foram as histórias tristes que já tinha vivido enquanto estava acordado.


Acordado e em pé pensava. Tentei trazer a mim toda atenção e presença que pude, para viver meu dia como é Agora. Esquecendo o passado e não se preocupando com o futuro, tentei focar-me exclusivamente nos meu problemas cotidianos. Assim, a cada momento eu criava histórias e gravava em minhas memórias novos capítulos.

Nessa estratégia fiquei até perder-me novamente nos inúmeros pensamentos que, cada vez mais fortes, voltavam. Descobri que o que realmente gostava era me cercar de um mundo criado. Com algumas das verdades óbvias que eu conhecia, com mentirinhas que eu gostava de inventar para parecer mais bonito, com  aquilo que eu achava que fosse verdade mas era mentira.

De acordo com o tempero de meus sonhos, acordados ou não, meu humor andava. Ora calmo, ora triste, ora agitado, ora alegre.

O mundo por fora continua sempre o mesmo. Sempre sábio e real. Racional e misterioso. E eu faço meu interior com ele, mas nunca exato. Interpretado ao sabor de minhas mentes consciente e inconsciente.

Fui envelhecendo e colecionando tudo que podia sentir. Conhecendo as pessoas e admitindo que sou diferente do que há lá fora, percebi que cada um faz a mesma coisa, mas de jeitos completamente diferentes. Criam suas próprias dimensões, pois são pessoas diferentes. Estão em lugares diferentes, possuem genes diferentes, estão sujeitas a forças diferentes, amam outras coisas.

Quando entro em contato com cada uma dessas dimensões vejo como resultado algo que não sou eu nem a pessoa. É criada uma terceira dimensão. E com cada contato a cada momento tudo muda e é diferente.

...sabendo que o universo é o mesmo para todos, que nascemos a cada instante um do outro, não posso distinguir o interior de minha mente do mundo exterior. Não posso distinguir mundos e dimensões. Tudo é único. Não há sonho nem realidade. Mudo a cada instante abraçando a dor e a felicidade como elas são, parte do intocável.

Só espero conseguir deixar minha mente aberta para que você possa olhar por mim.
Para que você me ajude a enxergar além do que vejo.
Para que você me proteja durante a noite.
Para que eu possa sorrir ao seu lado em lucidez silenciosa.


Bom ano novo para todos.

=)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

World of Sheep




Percebi uma coisa.
O mundo - ou, pelo menos, no mundo em que vivo - nos leva acreditar que somos especiais. Ou melhor, de que sou especial. Nascemos e já, desde crianças, somos doutrinados de que somos excepcionais.
De que serei um jogador de futebol internacionalmente famoso. De que serei atriz cobiçada pela beleza e pelo espantoso número de admiradores. De que serei médico e ajudarei os povos desamparados da África.
E, em algum momento, quando algum plano falha, nosso cérebro muda imediatamente o significado de sucesso. O plano que falhou se mostra inadequado e um diferente mais atraente.

Vivo dentro de mim. Conheço algumas das minhas limitações, mas algum pensamento, instalado em mim, me diz que sou excepcional e vou fazer uma grande diferença no mundo, não importando o que eu faça.

Sou levado a todo instante a comparar meu estado com o de outros. A cada momento justifico com argumentos claros cada movimento, cada acontecimento, cada vingança, cada frustração.

Talvez seja essa nossa defesa biológica contra falha de planos. Talvez a interpretação de certos fatos como falha de planos seja uma desvantagem genética. Tanto faz.

E se realmente formos todos medíocres? Coadjuvantes da história dos outros?
E se todos formos apenas o que somos? Sem mais nem menos. Sem medidas de bom, ruim, perdedor, ganhador. Se a cada instante tivéssemos a memória apagada e isso pouco importasse?
Sem pesos nem medidas, a felicidade/satisfação dependendo apenas do Agora. O que seria?

Provavelmente nos restaria ser apenas nós mesmo... e nada mais.