quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Erro de Sintaxe: Episódio 1 - Despertar

Morava ele sozinho, em um grande apartamento, no penúltimo andar de um prédio de alto padrão. A maior parte do espaço era empoeirado, pois só cuidava daquilo que era estritamente necessário: o banheiro, uma poltrona perto da sacada, a mesa, a cama e os móveis da cozinha. Vivia uma rotina simples e tediosa, ia ao trabalho de manhã, voltava no fim da tarde. Durante a semana, a noite variava com uma corrida em um parque próximo, alguma compra em um supermercado, um filme na televisão, vez ou outra um livro.

Estava assim há anos. Experimentava uma mistura de aborrecimento e espera. Esperava algo, que não sabia exatamente descrever, acontecesse. Um sonho que perturbava-lhe de vez em quando, quase sem imagens, mas uma sensação boa.

... raios relâmpagos, muito muito claro. Branco infinito... estrondos azuis e velocidade, muito muito rápido.
Manchas verdes em minha camisa branca... crescendo... como líquido esparramando... camisa confortável e cara, botões cinzas e mangas cumpridas, e.... verdes! Espinhos por debaixo do tecido... seda à perigo... ... ... Grama!!!

Subiu dos pés, repentinamente, o gramado extenso. Camisa suja de terra e grama. Pá na mão.
Acabara de plantar a última mudinha de sua horta. Regador caído, água escorrendo. No fundo avistava uma casa de tijolinhos bem ajeitada. Pinheiros crescendo, nuvens passando em fast forward, sol estático e sempre brilhante, verão constante.

Anoitece repentinamente. Fica escuro, e mais escuro. Cegueira completa... surdez progressiva.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

Carro distante.

Carros distantes.

Trânsito debaixo de meus pés. Buzinas e faróis de Xenon.

Ao ser lançado da calçada para 21 andares acima, se achou acordando, com um livro no colo, quase deitado na poltrona perto da sacada. Era uma noite quente, mas entrava um gelado vento, que balançava a cortina semitransparente de seda na porta de vidro em frente. As luzes estavam apagadas, então deveria ter caído no sono antes do sol ter-se posto...

A lua dava uma poética silhueta de poltrona e homem ao chão de madeira...

continua...

2 comentários: